quarta-feira, 25 de novembro de 2009

África Negra...

Ao pôr-do-sol a terra é mais vermelha,
E mais garrida a acácia nos parece.
No mar há rubros de ouro. E anoitece
Como no céu ressalta uma centelha.

O Sol vai serra adentro. E acontece
Que o chão de mil tons de ocre se avermelha.
Foi Deus que a um justo viu fervor na prece:
Africa Negra ao Éden assemelha!

À solta,andam na praia os namorados
Na babugem das ondas, descuidados...
E os búzios calam desmandos de amor.

Há luz junto do mar que inda alumia.
Chega à savana o cheiro a maresia,
Porque há feitiço ao sul do Equador!



In POESIA QUE A MÁGOA TECE, 2007.
Maria Francília Pinheiro

domingo, 22 de novembro de 2009

ÁFRICA MINHA...


Que saudades eu tenho, África minha!
Da cor do mar, do Sol a arder na pele,
Da chuva repentina que adivinha
A sede que ao chão faz lanho a cinzel...

Ao sol, quando na rua vou sozinha,
Não esqueço o cajueiro e a sombra dele:
Dos cheiros e sabores eu guardo o mel
Da manga e da papaia madurinha...

E como não lembrar a teimosia
Do tempo, que na imensa serrania
Lavrou perfis do Negro em cada monte!?...

E mais outro igual não há sol-poente
Que se afoga a correr na serra adentro,
E traz perto da praia o horizonte!...


A fotografia aérea da serra das "Cabeças de Velho", em Nampula/Moçambique, fala por que a magnitude do cenário só poderia caber onde a humildade poética não tivesse tamanho.

In Poesia que a mágoa tece - 2007

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

A magia acontece...


Por que razão, Amor, já te apartaste,
E com afagos meus ficas zangado...
Não vês a angústia no rosto cansado,
O espectro da seara que ceifaste!?

Não mais quero saber por onde andaste,
Mas dar verdade ao sonho, então sonhado...
O que hoje em mim acusas de pecado
Não te enfadou enquanto só me amaste!

Procuras a miragem que não presta.
Agarra o pouco do muito que resta,
E vai acontecer do Céu magia...

Mas foges mais a cada hora, eu sinto.
No ar pairam amargos de absinto
Que me dão medo por telepatia...


IN Poesia que a Mágoa Tece - 2007.

Foto: Paula Raposo.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Sou tua ainda...


De alma e corpo fui tua pelas horas
Dos anos...Já esqueceste ou nada importa?
Sabendo eu bem que as minhas dores não choras,
O teu rodar da chave ouço na porta...

Sou tua ainda, que em meu peito moras,
E vejo os olhos teus, lascivos, vindo
Olhar-me o corpo, que em beijos devoras,
Enquanto a minha flor se vai abrindo...

Chegada a hora de me ir deitar,
Espero-te. Não vens. E,ao acordar,
Afagos de amor lembro que não digo...

Se não puder esquecer-te, fico louca.
Porque a fome que vem à minha boca
Não é de pão...,mas a calar me obrigo!


In Poesia que a mágoa tece - 2007

Foto: Paula Raposo

domingo, 1 de novembro de 2009

O dote...


Nesta aridez de selva que é a vida,
Deixei-me sufocar em tempos idos.
Mas, alguns anos já sendo volvidos,
Um sol de luz me quis ver renascida...

E alumiou minh'alma enlouquecida,
Cansada dos mil gritos e gemidos
Silentes, sufocados ou bramidos,
Em que afogava a dor mais desabrida...

Então, aquele sol de luz falou:
Sê nobre como a árvore na mata,
De pé, altiva em porte, embora archote,

Se mão cobarde o fogo lhe ateou.
E porque presa ao chão ordens acata,
Dignidade legou...Agarra o dote!


IN Poesia que a mágoa tece 2007

Foto: Paula Raposo